Wall-E e o respeito pelos frutos da civilização
Evolução? Não há como negar.
Estou aqui, frente à uma tela de computador, redigindo um blog, que vai ser lido por não sei quantas pessoas. Estou aqui, em conexão com o mundo, e apenas preciso digitar palavras soltas ou inter-relacionadas em um teclado. Se quero fotos, basta buscar. Se quero sons, basta “baixar”. Se quero imagens em movimento, deve haver um meio de obtê-las. Sempre há. Se quero pagar uma conta, vou ao banco sem sair da minha cadeira. Se quero mandar mensagens, os Correios ficam em frente, mas não preciso ir até lá, mando um e-mail. Se quero notícias, diversão, bate papo, é só fazer a conexão. Com Londrina, Paraná, Brasil? Com a China? Com o Japão? Não sei a língua, mas há tradução automática e mesmo um mau inglês pode ser uma boa solução.
Rádio, tevê, cinema, nada passou. Ao contrário, todas as mídias evoluíram, de um jeito ou de outro. Mas nada são sem o computador, o mundo virtual, o reinado da tecnologia quântica, para o qual migraram ou tendem a migrar, gostem ou não. Tudo está aqui, à mão, à distância de um toque. Podemos nos expressar individualmente, em grupo, em fórum. Dar nossa opinião. Tornarmo-nos celebridades e nem tão efêmeras assim. Quem sabe não estamos naquele vídeo mais acessado? Ou filmamos aquela cena ou fotografamos aquela imagem, ambas – cena e imagem – que vão nos tornar conhecidos no mundo virtual ou real, quem se importa? Tivemos uma ideia. Ela rende. Então, acabamos virando os mais novos milionários do planeta. Consumimos mais, poluimos mais, divertimo-nos mais… É isso?
A tecnologia é fascinante. Confortável, libertadora e inesgotável. Mas será que tem direção? Ou melhor, será que ela precisa de direção? De princípios, talvez? Quem sabe, não precise de nada e eu é que estou procurando a saída de emergência, quando não há a menor necessidade de algum escape. Só que o homem – por trás dessas máquinas cada vez mais fantásticas – continua em guerra, consigo mesmo e com o outro. E infeliz, na maior parte do tempo. Isso é tudo o que conseguimos?
Interessante, para reflexão, assistir Wall-E, uma produção da Pixar (Disney), com roteiro e direção de Andrew Stanton, ganhador do Oscar de melhor animação de 2008 (disponível em DVD).
A história é sobre evolução tecnológica e poluição. Enquanto os humanos escapam de um mundo tornado inabitável por causa do lixo acumulado, embarcando em um cruzeiro de longuíssima duração pelo universo, Wall-E, um dos robôs encarregados da limpeza do planeta, vai ficando e acaba se tornando o último representante na Terra de nossa civilização. E se sai muito bem.
Não só cuida de si mesmo, mantendo-se ativo pelo autoconserto e pela exposição regular ao sol (para recarregar a bateria), como, ao realizar o seu humilde trabalho, demonstra carinho por tudo o que encontra, seja uma lâmpada, um cubo mágico, uma planta.
A receita de Wall-E é bem simples: respeito. Respeito pelo que somos, pelo outro, pelo planeta… Será que não é disso que nossa evolução anda precisando?