Haicai 13
Murmúrio de regato –
o silêncio da natureza
é cheio de sons.
Poema e ilustração da designer e artista plástica Denise de Camargo…
Às vezes poeira, às vezes caixão.
Ambos feitos de um material instável – ou estável –
de acordo com a pureza da cosmovisão.
Alado – ou arado – era mais do que um punhado:
de estrelas, alegrias ou qualquer religião.
Adorava seguir por entre os vales – ou valas –
da finita e ambígua rebimboca da parafuseta
destrambelhada em difusa precisão.
Comia por alto, bebia nos cactos, mas rugia,
vivia e mentia nas beiradas de um escopo azul.
Rudimentar, talvez. Espacial, sem vez.
De olho aberto, ruptura assim. Elementar – saudável –
ou quem sabe uma parte daquilo que vazava em mim.
O aroma do assado
subverteu a ordem,
o coentro, o manjericão
espocaram na língua,
desfazendo os nós,
a framboesa,
derretida em calda,
suavizou a tensão,
o vinho espalhou-se,
generoso,
turbilhonando nas taças
de cristal,
as cores estaladas
das frutas e flores,
displicentemente
colocadas
sobre o aparador,
combinaram-se
como arco-íris
depois de chuva de verão,
o roçar da toalha branca,
de neve rendada,
tocada de leve
pelos talheres de prata,
inundaram de tons
irreverentes
o ambiente,
antes tão formal.
Uma refeição primorosa
selou, naquele dia,
as pazes do casal.