Graciosa
Nas delicadezas,
renda e cristal,
brisa e sol ameno,
tons suaves, aquarelas,
a inspiração para viver
mais um momento,
mesmo sabendo
que tudo passa!
Nas delicadezas,
renda e cristal,
brisa e sol ameno,
tons suaves, aquarelas,
a inspiração para viver
mais um momento,
mesmo sabendo
que tudo passa!
Flores belas,
de pétalas voltadas
para o céu,
acolhem
em sedoso cálice
gotas translúcidas
de pura esperança.
No viver.
No que vier.
No que tiver de ser.
Cascatas,
música clássica,
chuva rápida,
estalo de pipoca,
disso tudo,
um pouco de cada coisa,
veio a sonoridade
cristalina
das risadas.
Quando perguntaram
ao guerreiro
ao inquisidor
ao terrorista
ao ditador
ao homem, enfim,
por que era tão cruel
com o outro homem,
ele respondeu simplesmente,
sem hipocrisias religiosas
ou apelos idealistas:
– Porque eu posso.
Na luta da vida,
o poder é uma arma
muito perigosa.
Deixe que eu a assopre
deixe que se vá
no mar de emoções
em que mergulho
ela é como
a franja branca
a renda espumante
da onda majestosa
muito, pela beleza da forma
nada, pela essência que nem
rastro deixa
então, que o vento a leve
que a espalhe, que a dissolva
que apareça, mas que também desapareça
como se não fosse
mesmo tendo sido alguma vez
tristeza.
Molhada,
descabelada,
zonza,
saí assim
da minha
primeira onda.
Na arrebentação,
apavorada,
fui coberta,
arrastada,
envolvida
por sua trama
grossa
e espumosa.
Depois do medo,
o gozo,
sobrevivi
mesmo encharcada.
Feito zumbi,
aos olhos
de quem olhava,
me descobri
rindo sozinha,
bêbada
de água salgada.
Se os animais
falassem
e pensassem
e agissem,
montando estratégias
de sobrevivência –
como nós -,
também seriam
inconformados
com os próprios
limites;
insatisfeitos,
mesmo tendo,
ou não, e
consumidos pela
ambição voraz,
como nós.
Abençoados,
então, porque
não falam,
não pensam,
não agem,
sem consciência
de quão vasta
é a ignorância
e tão grande
o mistério.
Melhor voltar
ao Paraíso,
recuperar
a inocência
animal de
Adão e Eva.
Ironia ter sido
uma serpente
a causadora da
queda.
O que seria de mim
se não existisse
o outro?
Um náufrago solitário,
à procura de um “Sexta-Feira”,
pois é para o outro
que falo,
é no outro
que me reflito,
e me descubro,
é por causa do outro
que me expando
e me limito,
e é com o outro
que aprendo
a amar,
que meus interesses
ganham sentido,
meus projetos,
consistência,
meus pensamentos
e sentimentos,
um rumo
de bumerangue.
Pelo outro
eu avanço,
eu me aprimoro,
eu me desafio.
Sem o outro,
por falta de ressonância,
eu seria alguém
que nunca se realiza.
Pela minha janela
quando a noite acorda
e luzes vívidas espalham-se
em direção à profundidade escura
do horizonte
tenho a cidade a meus pés
tudo muda
quando o dia amanhece e
pela minha janela
fico à mercê da cidade
com sua claridade cambiante
de cores típicas
que nunca são as mesmas
vez ou outra a amplitude do céu
serena imutável
altera-se
por conta de elementos dissonantes
nuvens chuva raios bruma
pássaros em voo tão próximo
aviões de carreira
que sulcam trilhas retilíneas
metálicamente brilhantes
pela minha janela
aprecio os tons esmaecidos
do poente
o nascente vibrante
um quadro mutante
uma obra aberta
uma pintura sempre renovada
uma sinfonia
que enche minha casa
de intangível beleza