Graciosa
Nas delicadezas,
renda e cristal,
brisa e sol ameno,
tons suaves, aquarelas,
a inspiração para viver
mais um momento,
mesmo sabendo
que tudo passa!
Nas delicadezas,
renda e cristal,
brisa e sol ameno,
tons suaves, aquarelas,
a inspiração para viver
mais um momento,
mesmo sabendo
que tudo passa!
Flores belas,
de pétalas voltadas
para o céu,
acolhem
em sedoso cálice
gotas translúcidas
de pura esperança.
No viver.
No que vier.
No que tiver de ser.
Um medo
Muitos medos
Medo de ser
Medo de fazer
Medo do que vai acontecer
Medo
Com ou sem
O resultado é o mesmo
Estarei viva amanhã
Ou não
Realizarei o que desejo
Ou não
Terei o que quero
Ou não
Soçobrarei
Ou
Sobreviverei
Às tempestades
Da vida
O medo não ajuda
Em nada
E atrapalha muito!
Há dias em que dá uma
vergonha de mim,
de ser quem sou,
de ser como sou.
O que fazer?
Fugir,
enfiar-me na toca,
deixar de ser?
A melhor alternativa
é viver – como diria
Clarice Lispector –
apesar de…
Contrariar as contrariedades
Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive, muitas vezes, é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.
Clarice Lispector, em ‘Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres’
Quando perguntaram
ao guerreiro
ao inquisidor
ao terrorista
ao ditador
ao homem, enfim,
por que era tão cruel
com o outro homem,
ele respondeu simplesmente,
sem hipocrisias religiosas
ou apelos idealistas:
– Porque eu posso.
Na luta da vida,
o poder é uma arma
muito perigosa.
No fim, só a
morte é certa.
Mas, no remoinho
do viver, mesmo
as certezas são incertas
e fluem, em sua particular
harmonia, pelos mistérios
da impermanência.
Deixe que eu a assopre
deixe que se vá
no mar de emoções
em que mergulho
ela é como
a franja branca
a renda espumante
da onda majestosa
muito, pela beleza da forma
nada, pela essência que nem
rastro deixa
então, que o vento a leve
que a espalhe, que a dissolva
que apareça, mas que também desapareça
como se não fosse
mesmo tendo sido alguma vez
tristeza.
Se os animais
falassem
e pensassem
e agissem,
montando estratégias
de sobrevivência –
como nós -,
também seriam
inconformados
com os próprios
limites;
insatisfeitos,
mesmo tendo,
ou não, e
consumidos pela
ambição voraz,
como nós.
Abençoados,
então, porque
não falam,
não pensam,
não agem,
sem consciência
de quão vasta
é a ignorância
e tão grande
o mistério.
Melhor voltar
ao Paraíso,
recuperar
a inocência
animal de
Adão e Eva.
Ironia ter sido
uma serpente
a causadora da
queda.