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DESPERTAR
Passarinho cantou,
tão baixo, rasteiro,
assoviou.
Lembro apenas
do barulho das sombras,
se desfazendo,
dos últimos pingos
caindo, um a um,
do arco-íris
que brilhou,
pavão furta-cor.
Vi, então, um pedaço
rasgado de céu azul
– seda ou cetim ? –
pequenas e frias estrelas
cintilando.
A lua brigou com o sol,
não houve casamento
nem de viúva,
nem de espanhol.
Ouvi ruídos longínquos,
estranhos.
Minha voz
procurou espaço,
queria se expandir,
fogo de encontro.
Só cinzas,
sem incêndio.
Busquei pedrinhas
para jogar no lago,
encontrei conchas
na areia vertiginosa
que seguia o mar.
Azul, verde,
o brilho cristalino
da água ofuscou
minha vista.
O barco pequeno
navegava ao encontro
do horizonte.
A bandeira, a vela,
cera branca,
branca de cera.
O vento rugiu,
o despertador tocou.
Ouvi, ainda,
estremunhada,
o trinar de um
passarinho.
Foi aqui dentro
ou lá fora
que ele cantou?
Escrito
em 31/12/2016