A casa está de pé
ninguém sabe como,
há rachaduras, buracos,
reentrâncias,
lascas nos ladrilhos,
gordura acumulada,
estranhas ressonâncias,
falta de gravidade
nas repentinas diferenças
de piso.
O novo e o velho
se misturam
num charme inesperado,
por mais moderno
o móvel se encaixa,
por mais antiquado
pode ser útil.
Na mescla do antigo
e da vanguarda.
do desconjuntado
e do aproveitável,
a casa vai se aguentando,
cheia de feridas
e de lembranças.
Um dia teve quintal
espaçoso, flores
e plantas
entrelaçadas,
ervas exóticas
para chás curativos.
Um dia teve também
a senhora da casa,
oprimida, mas gentil,
capaz de unir
com graça
as inconciliáveis diferenças
entre o caipira e o urbano,
o mágico e o rotineiro,
o divino e o profano.
Talvez por ela,
que já se foi,
a casa permaneça de pé,
como numa homenagem
póstuma.
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