Pode-se dizer que há dois tipos básicos de apresentação dos textos. São eles:
Prosa – texto corrido, a expressão natural da linguagem escrita, que não está sujeita a métricas, versos ou outro tipo de cadência ritmada. É a linguagem objetiva, direta, usual, típica das conversas.
Poesia – texto composto por versos (livres ou com rima), frases justapostas, que obedecem a um ritmo, possuem uma harmonia intrínseca. É a linguagem subjetiva, emocional, que possui ritmo próprio. Verso: cada frase de um poema.
Vamos praticar a escrita de textos poéticos?
Um exemplo:
Tendo como inspiração a imagem de um Girassol, busco, mentalmente / emocionalmente, palavras que combinem com a figura (a partir das minhas referências pessoais). Em geral, vêm à tona substantivos, adjetivos e verbos.
No meu caso, associei a figura a:
sol; girar; rodopio; luz; amarelo; calor; beleza; natureza; infinito; mistério; vida; prazer de viver; instante; momento; felicidade; força; realização.
Contemplo de novo a imagem e deixo que essas palavras, que anotei à parte, me conduzam a uma linha de raciocínio.
Defino, então, que vou escrever sobre a flor na perspectiva do astro que lhe cedeu o nome – o sol -, explorando as semelhanças e as diferenças existentes entre um e outro.
Assim:
Sobre astros e flores
Gira, rodopia, em calor amarelo, caramelo, o sol,
no infinito sem cor definida,
a não ser a do mistério.
Cá embaixo, presa na terra
a flor amarela, de calor tépido, embeleza
o amarronzado, o chão árido, o olhar tristonho.
Gira o sol sempre.
Girassol de vez em quando.
Repare que, para escrever um poema ou uma mensagem poética, o mais importante não é a rima, mas sim o ritmo que permeia todo o texto.
Esse ritmo é resultado da harmoniosa integração entre a sequência de ideias (conteúdo) e a sequência de frases que expressam essas ideias (forma), a partir da utilização de recursos como o som e o sentido das palavras, e a divisão dos versos.
Veja como esses recursos foram aproveitados na mensagem poética do exemplo:
SOM DAS PALAVRAS
“Gira, rodopia, em calor amarelo, caramelo, o sol,”
sons parecidos: gira, rodopia
calor amarelo, caramelo
som dissonante: o sol
“a flor amarela, de calor tépido, embeleza”
sons parecidos: a flor amarela / embeleza
“o amarronzado, o chão árido, o olhar tristonho.”
sons parecidos: …zado, árido
som dissonante: …onho
SENTIDO DAS PALAVRAS
“no infinito sem cor definida,
a não ser a do mistério.”
sentidos opostos: infinito (sem definição) / definida (com definição)
sentido complementar: mistério (definido ou não, tudo é mistério)
“o amarronzado, o chão árido, o olhar tristonho.”
sentidos similares das palavras: o amarronzado (escuro) / o chão árido (desesperançado) / o olhar tristonho (melancólico).
DIVISÃO DOS VERSOS
A divisão dos versos se dá em três sequências :
Ritmo da primeira sequência
primeira frase longa; segunda frase média; terceira frase curta
“Gira, rodopia, em calor amarelo, caramelo, o sol,
no infinito sem cor definida,
a não ser a do mistério.”
Ritmo da segunda sequência
quarta frase curta; quinta frase média; sexta frase longa
“Cá embaixo, presa na terra
a flor amarela, de calor tépido, embeleza
o amarronzado, o chão árido, o olhar tristonho.”
Ritmo da terceira sequência
sétima frase curta; oitava frase longa
“Gira o sol sempre.
Girassol de vez em quando.”
Agora é a sua vez!
Mas não se preocupe em avaliar som, sentido, e divisão de versos ANTES de escrever.
O importante, nesta fase, é se soltar, permitir-se dizer. Para isso, siga os passos sugeridos no exemplo e DEPOIS faça uma análise de seu texto, para ajustar (caso necessário) o ritmo.
Para conferir o resultado, LEIA em voz alta (com pausas para a respiração e com a ênfase apropriada) sua mensagem poética. O que você vai querer saber?
Se o seu texto passou uma mensagem (mesmo que não seja aquela exatamente que você havia se proposto a passar, porque poesia é assim mesmo: estimula variadas interpretações). Se o seu texto soa de forma agradável (tem ritmo, melodia, sonoridade).
Independentemente do resultado que venha a obter, escreva várias mensagens poéticas, utilizando diferentes figuras – fotos, recortes de revista, ilustrações de livros, cartões postais etc. – que sejam do seu agrado e, em especial, revelem-se fontes de inspiração (porque são imagens que “mexem” com você, seja no nível racional, seja no nível emocional).
Isso é prática e só a prática nos leva ao aprimoramento.
Não deixe de dar uma olhada nesta dica de redação:
um guia prático de utilização da vírgula.
Deixe um comentário